Autora: Cecília Faria
E-mail: cecilia-1309@hotmail.com
Acadêmica de Psicologia
Membro do BehaviAholiCs - Grupo de Estudos de AC
Dentre os diversos tipos de violência existentes na sociedade e praticados contra o ser humano, a violência sexual é o crime que possui menores taxas de denúncia. O silêncio da vítima data desde a antiguidade, uma vez que a sexualidade humana é considerada um tabu desde esta época. A ausência de denúncias ainda ocorre pelo fato da vítima do abuso isolar-se, já que quando a integridade física e sexual é ferida, sentimentos de culpa e vergonha permeiam a pessoa vítima de violência, que é estigmatizado pela sociedade. O medo do agressor que, normalmente, faz ameaças a vitima, somado aos traumas e marcas deixadas na mesma, aumentam os comportamentos de silêncio frente à violência sexual. Quando a violência sexual ocorre com crianças, o silêncio é ainda maior; visto que o medo das ameaças e/ou até mesmo a dificuldade em relatar o ocorrido estão presentes na realidade infantil. Diante disso, é preciso perguntar-se: o que leva alguém a ser um estuprador? Quais as características de um abusador sexual infantil? Quais os impactos desta violência sobre a criança?
Imagem-Fonte: Imirante. |
Em primeiro lugar, cabe definir abuso sexual. Este termo é usado para designar uma forma de violência que envolve poder, coação e/ou sedução. A violência sexual ocorre quando há o ato sexual ou caricias, entre pessoas de sexo diferente, ou de mesmo sexo, sem que haja consentimento de uma das partes envolvidas ou em troca de favores. As conseqüências do abuso sexual são variadas e dependem, principalmente, de aspectos como: idade e tipo de relação entre a vítima e o abusador; duração e freqüência da violência; tipo e gravidade da agressão e reações do ambiente. O abuso sexual quando ocorre em crianças, é uma violência que envolve duas desigualdades básicas: a de gênero e a de geração. Normalmente, quando uma criança é estuprada, não há o uso de força física e, por isso, dificulta-se a comprovação do delito. Diferente do que muitos pensam, grande parte dos casos de abuso sexual infantil tem como autor um conhecido da família, ou até mesmo um membro desta. Dessa forma, o agressor pode ser um tio, pai adotivo, padrasto, irmão, avô, vizinho, amigo da família, pai; não sendo realizado, como se imagina, por alguém desconhecido da vítima.
Pesquisadores têm buscando caracterizar o perfil dos agressores sexuais infantis, com o objetivo de ajudar os pais e cuidadores a identificarem possíveis fatores de risco que podem levar a violência sexual contra as crianças. A partir destes estudos, percebe-se que o perfil dos agressores pode ser dividido em: identificação de características (sexo, idade, proximidade com a vítima); identificação de características comportamentais e da história de vida dos abusadores; e identificação da percepção dos agressores sobre as vítimas, sua sexualidade e sobre a violência sexual. Quando se fala em identificação das características, os estudos revelam que homens com idade entre 18 e 45 anos, com vínculos próximos a vítima (pai, padrastro, tio, vizinho) tendem a ser o perfil dos abusadores infantis. As características comportamentais que dos autores da violência sexual, por sua vez, estão relacionadas a baixas competências sociais, baixa auto-estima, sentimentos de inadequação, dificuldade nos relacionamentos interpessoais com adultos, bem como problemas relacionados com a realização sexual. Quando se investiga a história de vida do abusador, percebe-se que ter sofrido um abuso na infância, aumentam as chances da vitima se tornar um agressor na idade adulta. Porém, essa experiência deve estar acoplada a um contexto aversivo, ou seja, a um ambiente que não traga reconhecimento e/ou apoio que este sujeito necessita para superar o evento traumático. Por fim, as análises acerca da percepção dos abusadores sobre as vítimas, sua sexualidade e sobre o abuso, mostram que estes primeiros percebem as crianças como seres sexuais que desejam o sexo, visto que não resistem ao ato forçado, bem como mantém segredo acerca da situação.
Crianças que sofreram abuso sexual vivenciam as conseqüências desta violência a curto e longo prazo. Estas vítimas, por sua vez, tendem a apresentar uma diferente visão do mundo e tendem a se tornar adultos com problemas de relacionamento com outras pessoas. Conseqüências físicas como lesões genitais e DST’s, podem ser vivenciadas por estas crianças. O mais preocupante, porém, são as conseqüências psicológicas que a violência traz para esta vítima a longo prazo. Sentimentos de culpa, depressão, medo, autodesvalorização, negação de relacionamentos afetivos, problemas na personalidade, desinteresse pelo brincar/estudos, a visão da sexualidade como algo punitivo e sem prazer; e até mesmo o suicídio, são conseqüências percebidas em crianças vítimas de abuso sexual. É importante lembrar, porém, que estas conseqüências irão variar de criança para criança, uma vez que o contexto familiar e social (acolhedor ou não) no qual esta criança está imersa, influenciam, significativamente, no quão traumático será a violência para a criança.
Visto que os abusos sexuais acontecem quase sempre em segredo, cabe afirmar que quando na infância, o silêncio tende a ser maior. Isso porque o ato pode ser impostos por violência, ameaça ou até mesmo a fim de manter uma coesão familiar e proteger a família dos julgamentos sociais. Enquanto a criança não relata e/ou o adulto não percebe o ocorrido, alguns comportamentos dos pequenos podem ser identificados como sinais comportamentais de risco de abuso. Em crianças muito pequenas (que ainda não desenvolveram a fala), estes sinais são: o choro fraco, choramingos constantes, a resistência ao balanceio, dificuldade de sucção durante a amamentação, dificuldades em olhar nos olhos, indiferença aos que as circundam e atrasos no desenvolvimento motor. Em crianças maiores, que possuem a fala desenvolvida, os sinais tendem a ser: relacionamento superficial, falta de contato de olho, destruição dos brinquedos, déficits na resposta amorosa com os pais, dificuldades em se relacionar com os coleguinhas, falta de arrependimento pelos atos errados cometidos, descontrole dos impulsos e padrão de fala anormal.
A existência de um apoio individual e/ou institucional que ajudem a criança e sua família quando na descoberta do abuso sexual, são fatores de proteção que tendem a diminuir o impacto da violência tanto para a vítima, quanto para aqueles que estão ao seu redor. Dessa forma, cabe a cada integrante da sociedade participar da luta contra o abuso sexual, a fim de diminuir o silêncio e o tabu relacionado a este tipo de violência e aumentar o apoio social as vitimas.
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