Autora: Cecília Faria
Acadêmica de Psicologia
Membro do BehaviAholiCs - Grupo de Estudos de Análise do Comportamento
Contato: cecilia-1309@hotmail.com
Quando um casal recebe a notícia de que serão pais, seu mundo se transforma. Começam a planejar o quarto do bebê, a sonhar com o rosto daquela criança, a escolher o nome... A gestação corre bem, a criança nasce e a família entra em festa. Porém, durante algum momento do desenvolvimento daquele bebê, os pais começam a se preocupar com alguns comportamentos. Comportamentos esses que podem ser, por exemplo, a dificuldade da criança de olhar nos olhos dos pais ou até mesmo a maneira diferente com a qual ela brinca com determinados brinquedos. A partir daí surge a notícia: a criança é autista. A dúvida e os medos permeiam a vida destes familiares que, por um tempo, não sabem como lidar com este diagnóstico. Diante disso, pergunta-se: o que é o autismo? Como identificar se a criança possui autismo? O que fazer após o diagnóstico? (FIALHO, 2016)
O autismo, cientificamente conhecido como Transtorno do Espectro Autista – TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que acontece em crianças. Normalmente, o autismo acontece mais em meninos que em meninas. É um transtorno que ainda tem as suas causas desconhecidas e não possui cura, somente tratamento. Os primeiros sinais do autismo podem ser identificados antes dos 3 anos de idade e, por isso, é importante lembrar que quando o diagnóstico é feito precocemente o tratamento é iniciado mais cedo, e seus resultados, tendem a ser mais promissores. Uma criança autista, normalmente, apresenta as seguintes características (APA, 2013):
· Choro freqüente sem motivo ou ausência de choro,
· Exploração dos brinquedos de maneira não funcional (virar o carrinho e girar as rodas do mesmo, ao invés de brincar),
· Movimentos esteriotipados (balançar o corpo para trás e para frente),
· Dificuldade de imaginação/”faz de conta”,
· Dificuldades na comunicação verbal e não verbal,
· Dificuldade em demonstrar afetos e emoções,
· Ausência total ou parcial de expressões faciais e comunicações não-verbais,
· Rotina ritualizada, não aceitação de pequenas mudanças,
· Descontrole dos esfíncteres,
· Aprendizagem lenta,
· Agressão e auto-agressão,
· Hiperreatividade ou hiporreatividade a estímulos sensoriais, ou seja, ou sentem exageradamente um estímulo sensorial, ou não sentem o mesmo como deveriam sentir.
Os pais que possuem suspeitas ou acreditam que o comportamento de seu filho esteja diferente do esperado para a faixa etária, devem procurar o pediatra da criança para que ele a encaminhe para um especialista, que fará o diagnóstico. Com o diagnóstico em mãos, grande parte dos pais relatam “ficar sem chão”. Mas, apesar de não ser fácil lidar com a notícia de ter um filho autista, os pais, antes de mais nada, devem entrar neste “mundo azul”. É extremamente importante que tanto os pais quanto a criança diagnosticada recebam o apoio de familiares e amigos próximos, para que a aceitação seja mais fácil e a busca pelo tratamento mais rápida. O entendimento do transtorno também é válido para que os pais possam ajudar o filho autista, bem como os profissionais durante o processo de tratamento. Conhecer o assunto a fundo permite aos pais participarem ativamente do tratamento e desenvolvimento de habilidades da criança (FIALHO, 2016).
O tratamento do TEA é multidisciplinar e é de suma importância que os profissionais trabalhem em conjunto para que o desenvolvimento desta criança seja cada vez mais efetivo. Dessa forma, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos, professores e demais profissionais, devem trabalhar em conjunto com os pais a fim de auxiliarem no tratamento desta criança. Vale lembrar que o programa de intervenção envolve intervenções psicoeducacionais, orientação familiar, desenvolvimento da comunicação; e é particular de cada autista, ou seja, o programa de intervenção se adequará as necessidades individuais de cada criança (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000).
Dentre os programas de intervenção com eficácia comprovada, a ABA (Applied Behavioral Analysis/Análise do Comportamento Aplicada) tem se destacado no tratamento de autistas. Esta abordagem terapêutica analisa e explica a associação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem. A partir destas análises, cria-se um plano de ação para modificação daqueles comportamentos indesejados. O programa de ABA, normalmente, se inicia em casa quando a criança ainda é pequena. Ele tende a premiar os comportamentos desejados da criança, rejeitando punições. Dessa maneira, habilidades de linguagem, sociais, motoras, de cuidados pessoais são trabalhadas dentro de sessões individuais de 30 a 40 horas semanais. A criança, então, possui oportunidades de praticar novas habilidades, as quais serão generalizadas para outros ambientes. Vale lembrar que o envolvimento da família no programa é uma grande contribuição para o sucesso (LEAR, 2004).
No dia 02 de abril, comemoramos o dia mundial da conscientização do Autismo. Não só neste dia, mas em todos os outros o autismo precisa ser lembrado. Quando fala-se e entende-se sobre o assunto, o diagnóstico e as intervenções tendem a ser precoces e, consequentemente, ameniza-se o sofrimento da criança e seus pais. Dessa maneira, cabe a sociedade adentrar no “mundo azul” (azul caracteriza o autismo) destas crianças e seus pais, a fim de auxiliá-las e aceitá-las em seu meio.
Referências
AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA. Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais: DSM-IV-TR.Porto Alegre: Artmed, 2013.