ment Ciúmes: paranóia, amor, cuidado ou papel evolutivo? | Colisor de Contingências
  • Ciência Comportamental Aplicada

    Ciúmes: paranóia, amor, cuidado ou papel evolutivo?


    Por Thais Maísa 
    Acadêmica de Psicologia - 8º Período/ UNIPAM

    Apresentando um trabalho de semana científica, cujo título aparecia bem destacado: “Considerações sobre o Ciúme na abordagem Analítico-Comportamental”, percebi quanto burburinho havia ao meu redor! “Fulano olha ali”, “Eu ciumenta? Que absurdo”, “Ciclano, venha ver este aqui”! É em sua essência, um tema provocativo!


    O fato é que o ciúme está presente nas mais variadas relações em nossa vida: entre cônjuges, entre irmãos, entre amigos, nas relações de trabalho... A Teoria Analítico-Comportamental se refere a ele como “comportamento ciumento”, e o entende como algo que não é necessário à existência das relações (ou seja, vivemos relações onde ele não ocorre), mas que existe desde os primórdios da humanidade. Naquele tempo, o ciúme tinha papel importante nos relacionamentos, para sobrevivência e perpetuação das espécies. Isso se dava de acordo com os papeis diferenciados que o ciúme tinha para homens e mulheres. Para o homem, o comportamento ciumento funcionava como uma estratégia de proteção e manutenção da relação com a mulher que era responsável por reproduzir sua linhagem (seus genes) através da procriação. Por influência do ciúme, comportamentos que reduzissem as chances de um outro macho tomar seu lugar tinham sua probabilidade aumentada. Já para a mulher, o comportamento ciumento era uma forma de proteger e manter o relacionamento com um homem que provia - a ela e a sua prole - de alimentação, de proteção e demais cuidados. Assim, o ciúme foi adquirindo valor de sobrevivência e se tornando presente entre os seres humanos durante a evolução das espécies. Hoje, continua presente em nossas relações.

    Atualmente, a Análise do Comportamento entende o comportamento ciumento como uma reação diante de uma possibilidade de perda de algo que é reforçador. Reforçador é tudo aquilo que mantém um comportamento ou aumenta sua frequência. O que é reforçador para alguém é muito particular e pode não ser para outra pessoa, por exemplo: em relacionamentos afetivos, a atenção recebida do companheiro pode ser algo reforçador para uma pessoa, ao passo que, para outra, o reforçador pode ser a segurança que o companheiro lhe proporciona. São infinitas as possibilidades e os reforçadores! Quando um dos parceiros percebe que essa atenção ou essa segurança podem ser perdidas, entra em cena o comportamento ciumento, como se fosse uma redoma que pudesse proteger esse reforçador. 



    O comportamento ciumento passa a fazer parte do nosso repertório comportamental (comportamentos dos quais dispomos para lidar com as situações em nossa vida) por meio do que chamamos de reforçamento. Reforçamento diz respeito ao tipo de consequência que um comportamento gera que faz com que ele continue acontecendo. Existem dois tipos de reforçamento: positivo (+) e negativo (-). O reforço positivo é quando um comportamento tem como consequência o acréscimo de algo que pode ser “agradável” para a pessoa. Exemplo: demonstro ciúmes e tenho como consequência a atenção do meu parceiro, que conversa comigo. O reforço negativo acontece quando o comportamento tem como consequência a evitação ou retardamento de algo aversivo ao indivíduo, algo que seja desagradável ou cause desconforto. Exemplo: demonstro ciúmes e assim evito que o meu parceiro saia com os amigos, considerando que “ele sair com os amigos” é uma situação aversiva para mim.

    Ou seja, a cada vez que demonstro ciúmes e consigo o que “desejo”, ele se instala e posteriormente se mantém... é reforçado. Muita outras considerações importantes sobre o ciúme existem e não prolongarei citando-as aqui (deixo a quem se interessar, as referências). Entretanto é importante ainda salientar que o comportamento ciumento sofre influência da cultura em que estamos inseridos (do quando ele é valorizado ou não por essa cultura), práticas culturais, pensamentos e crenças que um grupo social partilha e valoriza. Sofre influencia da nossa história de vida e, consequentemente, de reforçamento. E está presente na nossa história filogenética, na nossa evolução enquanto seres humanos. Portanto, a Análise do comportamento propõe uma visão mais abrangente para a compreensão do fenômeno como comportamento multideterminado, cooperando para o entendimento de sua naturalidade em uma situação ou ocorrência exagerada e prejudiciais às relações. 



    Referência Bibliográfica

    COSTA, Nazaré. Contribuições da Psicologia Evolutiva e da Análise do Comportamento acerca do ciúme. RBTCC. Vol III. Nº1, 2005.

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