Guilherme Lucas Ferraz Costa de Oliveira
Graduando do curso de Psicologia do Centro Universitário de Patos de Minas
Comportamentos autolesivos são aqueles que podem ser descritos como comportamentos de injúria contra o próprio corpo (ex.: causar arranhões na própria pele usando uma tesoura, morder o próprio braço, arrancar tufos do próprio cabelo etc.). Esses comportamentos são vistos como inadequados pela sociedade e, quando apresentados, são severamente reprovados na intenção de que o praticante deixe de emiti-los. O que é preciso analisar, porém, é a função que possuem. Alguns descrevem que seja aliviar a “dor interna”, exteriorizando-a; outros, que eles tem a função de obter atenção, cuidado etc.
Quando esse tipo de comportamento é praticado as pessoas o reprovam (ex.: “não faça isso!”, “que feio!”), visando reduzir sua frequência. Com isso, porém, elas estão fornecendo atenção (reforço social) ao praticante. O fato de elas reprovarem verbalmente a atitude pode não reduzir a probabilidade de que ela volte a ocorrer no futuro – visto que o que a mantém agindo daquela forma (conscientemente ou não), em muitos casos, é exatamente atenção que recebe ao ser reprovada. Como efeito disso, as broncas tornarão os atos indesejados ainda mais frequentes e, quem sabe, aumentarão a tolerância do praticante a futuras críticas dirigidas a seu comportamento.
Algo que dificulta a extinção desse comportamento é que, pelo fato dele ser “chocante” para a sociedade, seu praticante consegue obter reforçadores sociais com certa facilidade. Não dar atenção é a chave? Dificilmente, visto que praticantes de comportamentos autolesivos realmente precisam de atenção e cuidado, além de, se você não der atenção, ele conseguirá reforço social com outras pessoas pessoalmente ou mesmo através da internet. Algo que pode ser feito é a mobilização de algumas pessoas mais próximas e que mantém mais contato com o praticante e, de forma conjunta, trabalhar com reforçamento diferencial, reforçando comportamentos em que a pessoa consegue obter atenção sem emitir comportamentos autolesivos (ex.: relato de experiências diárias, comentários sobre estados internos). Pode ser necessário implementar outras estratégias em casos moderados ou graves, as quais podem variar desde o fornecimento de modelos comportamentais, dicas de diversos tipos ou treinamento de familiares para desenvolvimento de repertório comportamental a reforço de baixas taxas de resposta, desenvolvimento de novos reforçadores ou acompanhamento terapêutico em casos mais graves.
O ponto central é que, diante de um autolesivo, não basta reprimir o indivíduo porque muito provavelmente esta repreensão apenas irá piorar a situação. É preciso buscar ajuda especializada e avaliar o que realmente faz com que a pessoa esteja se comportando daquela forma, e assim, definir uma estratégia efetiva.