ment Conselhos: use com moderação | Colisor de Contingências
  • Ciência Comportamental Aplicada

    Conselhos: use com moderação


    Thais de Melo 
    Discente do 7º Período de Psicologia UNIPAM


    Nos estágios em abordagem familiar sistêmica vejo o quanto é comum, entre alguns pais, a necessidade de proteger seus filhos. Noto ainda o quanto parece imperceptível a eles que a proteção, quando excessiva, pode se tornar prejudicial ao desenvolvimento da autonomia e favorecer o desenvolvimento de um repertório comportamental pobre. Resolvi então falar de forma breve sobre isso dentro da abordagem Analítico-Comportamental. 

    Cuidado com a superproteção
    Os nossos pais/família são a fonte do nosso primeiro contato com o mundo e nos educam para a vida em sociedade. Eles nos ensinam o certo e o errado, o que é bom e o que é ruim e nos ensinam a nomear não só objetos do mundo externo como também os sentimentos presentes no nosso mundo interno. Logo, se nos veem chorando nos perguntam: por que você está triste? E assim entendemos que choramos quando estamos tristes. Aprendemos a nomear a tristeza.

    De fundamental importância em nossas vidas, nossos pais nos auxiliam no desenvolvimento da nossa visão de mundo, que em boa parte se desenvolve a partir do que nos ensinam. Ao nos ensinar a nomear nossos mundos (interno e externo), nos ensinam com base em suas vivências e seus sentimentos. O que nos ensinam é impregnado daquilo que viveram e muitas vezes, esquecem-se de que são tempos diferentes, condições físicas, psicológicas, históricas, sociais e financeiras diferentes... e, principalmente, que somos uma subjetividade que nos leva a experienciar uma mesma situação de formas extremamente diferentes.

    Podemos aprender a lidar com o mundo por experiência direta ou indiretamente, através dos conselhos das outras pessoas - como nossos pais. Em Análise do Comportamento, estes conselhos são chamados de regras. Uma regra é uma descrição de uma contingência, que é basicamente uma situação onde temos um contexto, um comportamento e uma consequência. São alguns exemplos: “Se você não fizer o que o papai pediu, ele vai ficar triste”; “Se você não prestar atenção na aula será um menino mal”; “Se você chorar eu vou embora”, “Não posso brigar com meu namorado se não ele vai terminar o namoro”, “Não posso chegar atrasado ao trabalho se não meu chefe me dará uma advertência”. A criança também pode formular suas próprias regras a partir de sua experiência ou de outros comentários dos pais, como por exemplo quando ela observa que os pais ficam felizes por ter feito o trabalho de casa ou quando ouve: “Você é um bom menino por ter feito o dever de casa”. Nas duas situações é provável que a criança formule uma regra como “Se eu fizer o dever serei um bom menino”, que futuramente poderá exercer influência sobre seu comportamento.

    Desde crianças nosso comportamento de seguir regras é reforçado. Seguindo-as não precisamos necessariamente nos expor às contingências, que podem ser aversivas ou não desejadas, como por exemplo: com a regra “Se você responder à professora, receberá uma advertência” evito responder e assim evito também entrar em contato com o “receber uma advertência” que poderia ser punitivo para mim, desenvolvendo um comportamento considerado adequado. Elas são necessárias, portanto, e indispensáveis especialmente no desenvolvimento do que chamamos de "Comportamento Moral". 

    Entretanto, podem ter também seu lado negativo. Parte do problema está no fato de que os pais passam aos filhos as suas regras, segundo aquilo que eles acreditam e muitos impõem isso, esquecendo que os filhos também precisam viver as situações diversas, passando por frustrações e satisfações e ainda esquecem – se que foram criados em contextos às vezes bastante diferentes. Diante do papel dos pais em educar e proteger, o uso de regras permite a prevenção de muitos tipos de problema. Por outro lado, quando usadas de forma excessiva ou impositiva, podem não permitir que os filhos se exponham às contingências e desenvolvam repertório comportamental adequado por meio de suas próprias vivências, constituindo suas próprias percepções do mundo. Assim, atrapalham o desenvolvimento de comportamentos mais consistentes capazes de lidar com situações diferentes daquelas previstas pelas regras. 

    Para ilustrar, pense em uma mãe e um pai que frequentemente orientam o filho a não confiar em seus colegas na escola. Dizem a ele que os outros se aproveitarão de sua boa vontade ou o enganarão, caso permita aproximação. A tendência é esta criança evitar de fato o contato com as outras e ficar excessivamente atenta a sinais que possam sugerir traição, como uma piada, tomar o lanche, dedurar à professora ou outros, ao mesmo tempo em que ignora evidências contrárias como brincar junto ou ajudar nas tarefas. Ainda que realmente exista o risco de uma ou outra criança enganarem-na, há também grandes chances de algumas realmente buscarem sua amizade. Porém, se ela aprendeu que todas as tentativas de aproximação representam ameaças, certamente encontrará dificuldades para formar vínculos, confiar e sentir segura perto dos outros. Qualquer sinal será interpretado como ameaça e dificilmente terá a oportunidade de aprender a pensar diferente. 

    Enfim, é inquestionável a influencia que nossos pais exercem sobre nós e o comportamento controlado por regras é importante para nossa sobrevivência. Porém, quando usadas de forma excessiva, pode ser prejudicial. É importante que além de emitir regras, os pais busquem estimular a autonomia de seus filhos e deixar que entrem em contato situações variadas para que desenvolvam uma maior flexibilidade psicológica. Consequentemente terão maior facilidade para se adaptar às situações do mundo lá fora!

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